PERSONAGENS:
SEU MERDA: Homem negro .
SEU MERDA: Homem negro .
SEU M. - (Dentro do carro, buzinando durante um congestionamento.) BÍ! BÍ! BÍ!
W. W. - Tá buzinando porque, seu merda!
SEU M. - BÍ! BÍ! BÍ!
W. W. - Não vou nem falar porque eu sei quem é.
SEU M. - BÍ! BÍ! BÍ!
W. W. - É preto! Só pode ser coisa de preto (Risos).
NÃO SE TRATA DE RACISMO!
A quebra do meu silêncio programático, se dá, basicamente, por conta dessa hipocrisia midiática, sensacionalista e superficial dessa nossa pseudo-contemporaneidade. Refiro-me ao mais novo episódio envolvendo um notável global, o renomado, soberbo e arrogante Willian Waack.
Em um vídeo vazado e compartilhado (por ex funcionários da própria emissora) com um grupo de Whatsapp, aparece o pseudo-jornalista fazendo referências de cunho preconceituoso por ser um suposto negro que estaria a buzinar de maneira insistente durante a sua apresentação jornalística.
Não poderia ter um fundo de tela mais propício para ser feito tal comentário... A Casa Branca.
Sinceramente, não comove-me essa repercussão viral que se faz por conta do fatídico episódio de ato preconceituoso. O que me espanta, estarrece, é que a discussão central sobre a problemática da INFERIORIZAÇÃO DO OUTRO ATRAVÉS DA IDEIA DE RAÇA (isso por conta da quantidade e intensidade de melanina que cada indivíduo possui) é abordada. O que está em jogo em meio a essa questão não é, ao meu ver, o ponto central do processo histórico de formação do país, tendo sido erguido e até hoje sustentado pelos braços dos filhos e netos dos enormes e assombrosos Navios Negreiros. O espetáculo montado encima do "vazamento," na verdade, é para discutir quais as consequências que irá sofrer o inabalável ainda apresentador do programa 'cult' Painel.
Os comentários feitos por esse sujeito engravatado na frente das câmeras e dos holofotes não reflete o pensamento de um único indivíduo, mas sim, a equivocada ideia incutida de forma doutrinária de que o outro é inferior por conta da sua negritude. NÃO TRATA-SE DE RACISMO! Trata-se de preconceito enraizado e desferido demasiadamente a um grupo de seres historicamente tidos como de menor estatura dentro da pirâmide do social...
O grupo que representa as engrenagens de sustentação do motor da usura, da soberba, da luxuria e do capital. A discussão, ao meu entender, não deveria ganhar contornos de personificação (não importa a personalidade que profere tal insulto), o debate deveria ser feito no cerne, no âmago, no núcleo, no centro, no ponto fulcral da sensível questão, que é e por muito continuará sendo, a invenção maquiavélica de perpetuar uma ideia de segregação de uma parcela da humanidade em detrimento dos seus megalomaníacos caprichos; os denominados sub grupos, sub classes, os pobres, os miseráveis, em especial "os negros."
O apresentador Willian Waack, é mais um, assim como eu, você e qualquer outro que é desde o berço catequizado para distinguir, de pronto, quem dá ordens e quem de imediato tem que cumprir. As falas lamentáveis do Willian, são os reflexos das ilustrações dos livros de história que compõe o arcabouço das bibliotecas e salas de aula das escolas públicas da nossa colônia, sempre repaginada. Essas falas lamentáveis, infelizmente, é um pequeno recorte da gigantesca fotografia da nossa distorção social. O "É COISA DE PRETO" nos leva para um lugar de profunda reflexão de como enxergamos o outro e quais aspectos vamos escolher para diminuí-lo. Por mais que eu tenha algumas rusgas com o tal apresentador, não pela pessoa (que não conheço) mas, pela forma prepotente e forçada que conduz o seu programa semanal na manipuladora Globo News.
Se formos problematizar a fundo a fala do tal jornalista, com certeza iriamos chegar no DNA do RH das Organizações que contratou o mesmo. Willian Waack, nada mais é, que um produto do aglomerado de comunicações que monopoliza e manipula a rotina já não tão sadia da massa social. Não vou adentrar nos problemas internos dos grandes veículos de comunicação, mas, gostaria de chamar a atenção para aqueles que se iludem, acreditando que a emissora está tomando essas medidas contra o seu estimado funcionário de carreira por ser a Princesa Isabel das tele comunicações, muito pelo contrário: basta só observarmos dentro do seu quadro de funcionários quem são os atores principais (celebridades) e quem são seus coadjuvantes (figurantes contratados e bem remunerados).
Tempos estranhos!
"É até compreensível " esse alvoroço em torno dessa temática complexa que é a historicidade segregacionista dos povos de pele escura sendo reverberada pela boca de uma figura conhecida do mundo jornalístico... já que estamos presenciando interdições em museus, apreensão de obras de arte, cancelamento de apresentações artísticas, juiz cancelando shows, eventos artísticos. Os analfabetos políticos que se dizem informados do que está acontecendo no país, reduzem os discursos entre quem é de direita ou de esquerda, coxinhas e mortadelas, lulopetismo ou a organização criminosa que atravessa a ponte para assegurar o seu próprio futuro. Em tempos de extremismos plurais e generalizados, o real teor do debate se perde, é deixado de lado para dar lugar a um discurso raso, frágil e cheio de paixões. Na esfera do conhecimento e da sabedoria as divergências de ideias não podem, jamais, servirem para dividir, separar. As discordâncias são necessárias para uma constante depuração do debate do animal humano em meio ao convívio social como um todo.
NÃO SE TRATA DE RACISMO! É inadmissível, que no auge dos "avanços" do século XXI, possamos, se quer, aceitar e corroborar com a ideia de raça. Quando se fala a palavra RACISMO, logo, entende-se que há um conflito entre raças. Sendo assim, cria-se automaticamente uma ideologia equivocada de que um determinado grupo pode classificar o outro segundo as suas próprias convicções e interesses (o que de fato aconteceu)... Com tudo, acredito que a repetição demasiada da "IDEIA DE RAÇA", só faz contribuir para legitimar a perpetuação desse grande equívoco histórico.
Prefiro renomear o racismo para: A GRANDE IDEIA DA CULTURA DOMINANTE, À ÉPOCA.
Obs: De acordo com a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial das Organização das Nações Unidas (ONU), não há distinção entre os termos "discriminação racial" e "discriminação étnica", sendo que a superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, além de não haver justificação para a discriminação racial, em teoria ou na prática, em qualquer lugar do mundo.
Se querem discutir o racismo, primeiro falem do concreto quadro social dos lugares em que você habita. Se querem discutir o racismo, falem de como é adquirido e distribuído o sagrado capital e quem o acumula. Se querem discutir o racismo, olhem a sua volta, por onde quer que você andar e se pergunte porque? Se querem discutir o racismo, falem das programações dominantes das telenovelas, dos tele programas e dos telejornais. Se querem mesmo discutir o racismo, observem quem são a maioria dos vendedores ambulantes (informais), quem são os motoristas dos coletivos, quem são os faxineiros públicos, quem são os flanelinhas, os pedintes, os operadores dos caixas de supermercados, os repositores de seção, os garçons, os padeiros, os pedreiros, os frentistas, os ascensoristas dos elevadores nos edifícios, quem são os médicos doutores e quem são as guerreiras enfermeiras, os lavadores de carro, os taxistas, os que lotam os presídios, os que desabitam as escolas, os que sobrecarregam as emergências, os que habitam as comunidades (os quilombos da contemporaneidade), os que não moram na zona sul, os que ganham um salário (mínimo), as empregadas domesticas (secretarias do lar), os carregadores de caminhão, os de baixa escolaridade,, os que não ocupam o congresso, os não formadores de opinião, os quase nunca representados,os "marginais."
Na real, o quanto de Willian Waack temos dentro de nós, nas nossas mais inconscientes ações? Não se pode tratar essa problemática como forma de culpar o outro pela histórica falta de conhecimento da sua ancestralidade. NÃO SE TRATA DE RACISMO! Trata-se muito mais de uma acentuada falta de sensibilidade no que concerne o reconhecimento de que vivemos em uma colônia de apenas um pouco mais de 500 anos, cujo o seu processo de construção foi pautado pela exploração dos minerais e dos braços robustos e torneados dos "pretos primitivos do vizinho continente". Sem falar que o brasil foi um dos últimos (se não o último) países a "extirpar" (de maneira formal e simbólica) o lucrativo negócio que era vender mucambos em praça pública como se fosse uma dúzia de bananas. Obvio que sabemos que esse é um processo árduo, paulatino, homeopático, gradativo, porém, tem que ser radicalmente constante, diário, permanente, programático (como o meu silêncio).
Provavelmente eu devo ter me estendido no processo de elaboração das ideias. Peço desculpas, mas, o tema abordado é de uma singeleza singular e, por isso, merece uma atenção especial. O negro será sempre uma questão a ser discutida dentro do espectro histórico e cultural. Abrindo um profundo debate sobre as consequências da arrogância, soberba, prepotência e falta de conhecimento da forma como vivem outros grupos distantes... Que por sua vez, são idênticos à nós em todo o aspecto biológico e completamente diferentes na forma comportamental. A RAÇA É A MESMA, O QUE MUDA (e que bom que muda) É A MANEIRA QUE NOS COMPORTAMOS. NÃO SE TRATA DE RACISMO! TRATA-SE DE IGNORÂNCIA, MESMO!
Geferson P.
Links relacionados:
http://veja.abril.com.br/entretenimento/racismo-e-crime-e-pode-dar-pena-de-ate-quatro-anos-de-prisao/
http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/ConvIntElimTodForDiscRac.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Conven%C3%A7%C3%A3o_internacional_sobre_a_elimina%C3%A7%C3%A3o_de_todas_as_formas_de_discrimina%C3%A7%C3%A3o_racial